Conteúdo atualizado há 11 anos
Nesta semana iremos destacar uma fotografia capturada durante a Guerra do Golfo, em 1991, pelo fotógrafo David Turnley. A imagem é tocante, mostra toda a tristeza que um jovem sargento sentiu quando soube que o corpo enrolado no saco ao lado era do seu amigo, que foi morto por engano pelas próprias forças armadas dos Estados Unidos. A fotografia tornou-se símbolo de um conflito marcado pelo controle rigoroso imposto pelo Pentágono, ao trabalho dos jornalistas. Confira a história:
“Eu estava trabalhando para o jornal Detroit Free Press e para a revista US News and World Report. Eu havia originalmente sido enviado para cobrir a divisão 82 Airbourne e era um dos fotógrafos autorizados a retratar os combates. Nós éramos acompanhados por um relações públicas cuja função era garantir que obedeceríamos às restrições impostas pelo Pentágono à nossa cobertura. Nós não tínhamos autorização para tirar fotos de vítimas da guerra, muito menos de mortos no conflito.
Enquanto eu estava trabalhando, eu percebi que o que a TV estava mostrando, em sua maior parte, era uma guerra ‘limpa’, na qual a alta tecnologia estava sendo usada para evitar mortes, em especial de americanos. Ficou claro para mim que ia ser difícil retratar a realidade daquela guerra.
Durante meu trabalho, eu encontrei uma unidade médica de elite. Eu disse ao comandante dela que, embora eu tivesse minhas reservas em relação à guerra, eu achava que aquela unidade em particular iria ter um papel crucial em ajudar às pessoas e que eu queria documentar isso. O único porém era que não havia um relações públicas atuando nessa unidade. Eu disse que esse não seria um problema para mim se não fosse um problema para ele. Assim, ele concordou em me deixar acompanhar os médicos e enfermeiras por algumas semanas, nas quais criamos uma relação de confiança.
No que seria o último dia da Guerra, eu embarquei em um helicóptero para uma missão de resgate e evacuação. Uma mensagem de rádio chegou e ficou claro pela expressão no rosto do capitão que algo bastante diferente havia ocorrido.
Quando nos aproximávamos da cidade iraquiana de Nasiriya, no Rio Eufrates, pudemos ver que um veículo militar americano tinha sido partido em dois pedaços por um míssil. Dois soldados feridos foram levados ao helicóptero. São esses que estão na foto. Eles não pareciam saber o que tinha ocorrido, estavam muito desorientados. O corpo do motorista do veículo foi colocado numa sacola. Um paramédico entregou o colar de identificação do soldado morto a outro paramédico e, nesse momento, o soldado Ken Kozakiewicz percebeu que seu melhor amigo tinha sido morto pelo ‘fogo amigo’.
Eu sabia que essa seria uma boa foto e quis transmití-la rapidamente a meus editores na Arábia Saudita. Minha única opção era enviar o filme para lá pelos militares. Eu sabia que isso era arriscado, que eles poderiam querer ver o que havia no pacote e provavelmente censurar a foto. Esse era meu maior medo. Quando eu cheguei à Arábia Saudita, descobri que meus editores não tinham recebido o filme. Fui me encontrar com o tenente encarregado dessas coisas, e ele disse que o filme iria ficar com eles por um tempo até que os parentes das vítimas fossem avisados do ocorrido. Disse a ele que esse tempo já estava esgotado.
Eu conhecia esse tenente da Guerra do Vietnã e disse a ele: ‘Você sabe o que acontece nas guerras, e você está impedindo que esses homens sejam reconhecidos pelo seu heroísmo, pelo fato de que eles tiveram que arriscar suas vidas para lutar nesta guerra’. O filme então foi liberado, mas nos pediram que não publicássemos as fotos até que os militares nos dessem um retorno. Os editores de todas as principais revistas e agências de notícias olharam essa foto e decidiram que ela tinha que ser publicada. E ela foi, em cada jornal e revista de notícias do mundo.
Pela reação que senti em relação à foto, eu acho que ela causa impacto em vários níveis. É uma imagem incrivelmente intimista, que revela a vulnerabilidade de homens que projetam a imagem de serem fortes. Não é, necessariamente, uma foto sobre soldados americanos. É sobre a guerra e sobre jovens indo à guerra. Há uma certa nobreza e dignidade nos rostos desses soldados. Eu acho que Ken Kozakiewicz nos tocou profundamente com sua dor e heroísmo. Há uma qualidade de homem comum nele que se torna um símbolo muito poderoso da realidade da guerra, que é sempre uma realidade trágica”.
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