Conteúdo atualizado há 11 anos
Estava eu aqui, relendo algumas anotações que fiz de um livro muito bom de Vilém Flusser, quando uma conclusão do autor me deixou em pânico, por alguns segundos. Mas depois tudo passou e até concordei com ele… Fotógrafos não gostam de fotografias.
Não precisa entrar em choque e nem ir aos comentários no fim da página para me xingar! Antes disso, responda uma pergunta: VOCÊ GOSTA MAIS DE VER SUAS FOTOS PRONTAS OU DE SAIR PARA FOTOGRAFAR? Difícil, né? Fiz uma pequena enquete em nossa página no Facebook e 100% das pessoas disseram que gostam mesmo é de sair para fotografar (ou fotografar em estúdio, como preferir). E é exatamente isso que Flusser tenta explicar em um dos capítulos do livro Filosofia da Caixa Preta.
Se você definir fotografia como a imagem final (impressa ou digital) capturada pela câmera, então os fotógrafos, na verdade, não gostam de fotografia. A verdadeira paixão é a câmera e todas as ferramentas do fazer fotográfico.
Podemos dizer que os fotógrafos vivem em função de suas máquinas, como bem define Flusser: “o fotógrafo não trabalha com o aparelho, mas brinca com ele”. Quem diz que gosta de fotografia, na verdade gosta é do desafio de descobrir, compreender e utilizar todas as potencialidades que as câmeras oferecem. Queremos sempre um equipamento melhor, quando já utilizamos todas as opções do que temos. Estamos sempre em busca de tutorias, livros e outros materiais que nos ajudem a aproveitar melhor nosso equipamento.
[box type=”info”] RESUMINDO: fotografias são realizações de algumas potencialidades inscritas no aparelho que fotografa, isto faz o fotógrafo querer sempre descobrir novas potencialidades, concentrando todo seu interesse no aparelho. [/box]
Para explicar melhor, Flusser nos dá o exemplo do escritor, que é funcionário da língua, enquanto brinca com os símbolos, esgota as potencialidades do aparelho linguístico e enriquece a literatura. E por quê Flusser quer provocar esta reflexão? Simples… Quem quiser compreender a essência das câmeras e passar a admirar a arte em si, deve “aprender a distinguir o aspecto instrumental de seu aspecto brinquedo”.
E você, concorda?