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Antes do click: Erik Refner

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Conteúdo atualizado há 10 anos

A foto de hoje não é tão conhecida quanto as outras que já coloquei por aqui, mas também carrega uma história comovente. Em 2001, Erik Refner fotografou um refugiado afegão de um ano de idade sendo preparado para o enterro.

A imagem foi tão tocante que o presidente do júri da World Press Photo, Roger Hutchings, dedicou algumas palavras para destacar o valor da fotografia: “A imagem que ele fez tocou a todos nós. Ela é simples, icônica e simbólica. Ela aponta para um assunto que precisa ser tratado e ainda nos repreende por ter sido ignorado, o Afeganistão desde o fim da Guerra Fria. Ela também nos faz lembrar o que é realmente um fotógrafo”. Convido você a conhecer mais essa história e descobrir mais um pouco sobre a “aventura de ser fotógrafo”.

antes do click erik refner fosgrafe.com

“Em 2001, eu estava trabalhando como um estagiário no jornal Berlingske Tidende, da Dinamarca. Naquela época, falava-se pouco sobre os refugiados afegãos, apesar de esse ser um dos maiores problemas de refugiados do mundo. Resolvi oferecer ao meu editor, então, uma proposta de cobrir a situação no país, e ele aceitou.

Fui a um campo de refugiados perto da cidade paquistanesa de Peshawar, próximo à fronteira com o Afeganistão. Havia cerca de 90 mil refugiados lá, tanto por causa da situação política como devido à seca no norte afegão. Fiquei no campo por cerca de duas semanas. Eu não tinha permissão de ficar no local à noite, então pedi para o meu tradutor ficar de olhos e ouvidos bem abertos. Uma manhã, ele me contou sobre uma família que ele conhecia, em que um menino de um ano de idade morreu no campo.

A família foi à barraca da ONG Médicos Sem Fronteiras para pegar um abrigo branco e uma lápide. Fomos até a barraca em que os homens da família tinham começado a preparar o corpo da criança para o enterro. Eu dei os pêsames ao pai e depois perguntei se poderia tirar fotografias. De acordo com a tradição local, são os homens que preparam o corpo. Neste caso, era o pai da criança, o irmão e um imã. São estes os braços que dá para ver na imagem.

Tudo aconteceu muito rápido, a cerimônia durou cerca de dez minutos. Eu sentei no chão para tirar as fotos e depois tirei algumas em pé. Foi uma situação muito difícil, estavam todos muito tristes. Eu podia ouvir as mulheres chorando em uma outra tenda. E eu tentei não ser um intruso nos sentimentos deles. Então, todos saíram da tenda, e os homens carregaram o corpo por cerca de 2 km para um cemitério fora do campo.

Os juízes do World Press Photo descreveram a imagem como simbólica e icônica. Eu ainda recebo muitos comentários sobre a fotografia. Depois que uma pessoa a vê, não consegue esquecê-la. É muito simples e muito poderosa. Tem o grande contraste entre o manto branco e os braços escuros. A criança parece ter um pequeno sorriso no rosto, como se finalmente tivesse conseguido ir a um lugar melhor. Também tem o fato de que são pessoas de mais idade enterrando uma criança, deveria ser o oposto. Tem muito simbolismo nesta imagem. Tudo isso a torna muito poderosa.

Eu sempre tentei retratar pessoas inocentes em conflitos, prefiro fotografar indivíduos que têm a vida afetada por uma crise. Já fiz projetos no Congo e no Sudão. No momento em que tirei a fotografia, eu sabia que foi uma boa imagem. Quando cheguei em casa e vi a foto novamente, percebi que ela era ainda melhor do que eu tinha imaginado. A fotografia foi publicada algumas semanas depois de tirada, como parte de um ensaio.”

Fonte: bbc brasil

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