Conteúdo atualizado há 11 anos
Em um artigo para a Revista Trip, o grande fotógrafo e pensador J.R. Duran abordou um tema que eu nunca havia pensado a respeito: como a tecnologia digital modificou nossa forma de enxergar a fotografia. A reflexão não se resume apenas à transferência das imagens impresas para as que guardamos e vemos apenas no computador, vai bem além.
De acordo com o fotógrafo “ao encostar o olho no visor (um só, normalmente o outro deve estar fechado), a realidade que nos envolve desaparece e a única que interessa é a que captamos através da lente. O poder de síntese da imagem tem de ser amplificado para que possa expressar os sentimentos do que estamos tentando capturar”. E é exatamente isso que mudou com as câmeras digitais! Atualmente todos possuem um dispositivo que fotografa, desde as câmeras comuns até mesmo celulares e outras criações práticas da tecnologia; e, quando capturamos imagens com eles, nossos olhos estão sempre afastados, para ver bem o que está na tela LCD. Raramente você alguém utilizando o visor para fazer a escolha da imagem.
Isso é interessante porque, assim como Duran bem explica, não ficamos mais totalmente focados naquele pedaço de cena que desejamos guardar, todo o ambiente fica visível e pode acabar comprometendo o resultado da fotografia. Isso tudo porque fotógrafos não se entregam à imagem, não escolhem o enquadramento com a mesma cautela que têm quando “se fecham” no visor da câmera. Precisamos recuperar o espiríto da particularidade e do zelo com aquele único pedaço de momento que desejamos registrar.
A tecnologia pode ajudar a entender o mundo, mas o excesso de confiança nos aparatos turva a capacidade de enxergar o que está em nossa volta. A tendência é acreditar que o lugar visitado só vale se ele for capturado entre meia dúzia de pixels para poder ser saboreado na volta da viagem, calmamente sentado na frente do computador. O essencial é invisível para os olhos, mas se os olhos não sabem o que procurar nem sequer o superficial será capturado. A capacidade de enxergar, de ver e olhar foi transformada em capacidade de registrar, capturar – o que nos dias de hoje pode ser feito até por um telefone, e não quer dizer grande coisa. – J.R. Duran
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